Alta Prevalência de Infecção por Lophomonas em Pacientes com Suspeita de Tuberculose Pulmonar

Pesquisa na província iraniana de Golestan revela 21,75% de prevalência de infecção por Lophomonas em 216 pacientes com suspeita de tuberculose pulmonar. Recomenda-se investigar Lophomonas em suspeitas devido a sintomas clínicos semelhantes.

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Lucas W.S Sousa

2/26/20245 min read

Estudo na província de Golestan, Irã, encontra alta prevalência de infecção por Lophomonas em indivíduos com suspeita de tuberculose pulmonar

A tuberculose (TB) é uma doença infecciosa importante e uma das principais causas de morte no mundo. Em 2019, matava 1,4 milhão de pessoas. A TB foi relacionada em todos os países e faixas etárias. O Irã é considerado um país de baixa incidência, com menos de 10 casos por 100.000 habitantes em 2019. Porém, a província do Golestão, no nordeste iraniano, é a segunda mais afetada do país em número de casos.

Recentemente, infecções por Lophomonas, um protozoário habitualmente comensal de baratas, passaram a ser reconhecidas como uma causa incomum de doenças broncopulmonares. Esse parasita flagelado encontrado em amostras das vias aéreas auxilia no diagnóstico, embora sua morfologia seja idêntica ao epitélio brônquico ciliado, dificultando a interpretação. A inalação de cistos presentes na poeira pode iniciar a infecção, ocorrendo mais em adultos.

A lofomoníase é uma doença respiratória associada a sintomas como tosse, escarro, dispneia e por vezes hemoptise, demonstrando a importância da diferença da tuberculose e da asma. Até agora, infecções humanas foram relatadas em duas províncias iranianas ao norte e leste, com confirmação molecular e sequenciamento de Lophomonas blattarum. A parasita também foi recentemente isolada de baratas alemãs no norte do Irã.

Não existem estudos sobre pacientes com suspeita de TB, apenas relatos de casos de coinfecção Lophomonas-tuberculose. Considerando a semelhança dos padrões clínicos e a falta de dados sobre o status desses indivíduos, este estudo investiga sua prevalência utilizando PCR.

O Lophomonas é um protozoário multiflagelado que habita o intestino posterior de baratas comuns.

O estudo foi realizado com 216 participantes com suspeita de TB e sintomas como febre, tosse crônica ou escarro atendidos em laboratórios de três cidades da província de Golestan em 2019-2020. Foram coletadas amostras de escarro dos pacientes. O DNA foi extraído das amostras congeladas e a PCR interna foi feita para detectar DNA de Lophomonas.

Dos 216 indivíduos, 47 (21,75%) foram infectados por Lophomonas spp. Além disso, 9 pacientes (4,2%) tinham tuberculose. Dois pacientes apresentaram coinfecção pelos dois agentes. Não houve diferença significativa na comparação de sintomas isolados e taxas de infecção por Lophomonas. Porém, na comparação do conjunto de sintomas como tosse, escarro e febre com tosse e escarro ou tosse e febre ou escarro e febre, houve diferença significativa.

Até hoje, Lophomonas spp. tem sido isolado principalmente de escarro e lavagem broncoalveolar. Por isso, o escarro foi usado neste estudo. Atualmente, métodos de coloração como Giemsa, Tricrômio e Papanicolaou são utilizados para identificar Lophomonas. Porém, seu diagnóstico baseado em morfologia é difícil devido à alta similaridade com células epiteliais brônquicas normais ou atípicas. Assim, o PCR aumenta sensibilidade e especificidade.

Os resultados mostraram que 47 dos 216 casos (21,76%) foram infectados pelo parasita. Considerando a natureza emergente dessa infecção e a falta de evidências sobre sua prevalência em suspeitas de tuberculose, os resultados são o primeiro dado científico a respeito.

Até o momento, não existem dados precisos sobre a prevalência global dessa parasita, como a maioria dos estudos em forma de relatos ou séries de casos, principalmente na Ásia. Porém, a verdadeira carga mundial da lofomoníase é desconhecida. O Irã e a China registraram os maiores números de casos.

Um estudo mostrou que a coexistência de tuberculose e lofomoníase era relativamente comum. Segundo ele, a alta prevalência de infecção por Lophomonas entre os participantes suspeitos de tuberculose neste estudo torna Golestan uma possível área endêmica desse protozoário emergente.

De acordo com algumas evidências, a lofomoníase não é afetada pela idade ou gênero, e os achados deste estudo apoiam isso. Porém, a maioria dos casos de infecção foi observada em indivíduos acima de 50 anos, possivelmente devido ao maior tamanho amostral nessa faixa etária, a maior possibilidade de exposição ao parasita, o surgimento de sintomas clínicos nessa idade e a procura mais frequente por atendimento médico.

Poucos estudos examinaram a associação da infecção por Lophomonas com outras doenças respiratórias, incluindo pneumonia, DPOC, câncer de pulmão, alergias, doença pulmonar intersticial, abscesso pulmonar, tuberculose, tosse crônica, cistos respiratórios, asma e bronquite. Desses, 21 casos de coinfecção com tuberculose já foram relatados. Porém, neste estudo, mostrou-se não haver relação significativa entre lofomoníase e tuberculose, com apenas dois casos de coinfecção observados.

Curiosamente, 47 casos de infecção por Lophomonas foram relatados em 216 pacientes suspeitos de tuberculose, destacando a importância de examinar essa parasita em indivíduos que apresentam o conjunto de sintomas de tosse com escarro e com ou sem febre.

Os principais sinais clínicos que sugerem a possibilidade de infecção por Lophomonas incluem tosse, escarro e febre, também observados em pacientes com asma ou tuberculose. Por isso, pesquisadores demonstraram haver relação significativa entre sintomas de asma e infecção por Lophomonas. Estudos recentes observaram que sintomas asmáticos em pacientes com lofomoníase são mais brandos que em asmáticos.

De acordo com um estudo, febre e depois tosse são os sintomas mais importantes em crianças e adultos com lofomoníase. Porém, neste estudo, pacientes com tosse e escarro, mesmo sem febre, tiveram as maiores taxas de infecção por Lophomonas. Portanto, a febre pode não estar presente em todos os indivíduos infectados, o que deve ser considerada no diagnóstico.

Concluindo, esta é a primeira evidência sobre infecção por Lophomonas em suspeitas de tuberculose pulmonar em uma área endêmica. Dada a infecção relativamente alta nesses pacientes e os sintomas clínicos semelhantes à lofomoníase e tuberculose, recomenda-se fortemente o exame de escape desses indivíduos quanto à parasita, para diagnóstico correto e tratamento protetor. Mais pesquisas são possíveis para definir o status da infecção por Lophomonas em suspeitos de tuberculose pulmonar em outras áreas.

Lucas W. S. de Sousa, Biomédico Microbiologista editor e idealizador da página Microbiologia Clínica Brasil.

Referência: KALANI, Hamed et al. Alta ocorrência de infecção emergente por Lophomonas entre pacientes com suspeita de tuberculose pulmonar: evidências internas baseadas em PCR. Perspectivas Interdisciplinares sobre Doenças Infecciosas, [SL], v. 1-5, 1 dezembro. 2022. Hindi. http://dx.doi.org/10.1155/2022/2742164 .