Entenda a Nota Técnica Conjunta da Sociedade Brasileira de Infectologia, Sociedade Gaúcha de Infectologia e Secretaria de Saúde do Estado do Rio Grande do Sul sobre Quimioprofilaxia na Leptospirose

Descubra as orientações da Nota Técnica Conjunta das sociedades médicas brasileiras e da Secretaria da Saúde do Rio Grande do Sul sobre as indicações de quimioprofilaxia com antimicrobianos na leptospirose, especialmente em casos de alto risco, como enchentes e desastres naturais.

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Lucas W.S.Sousa

5/7/20244 min read

Nota Técnica Conjunta orienta sobre o uso de antimicrobianos em situações de alto risco de transmissão.

A leptospirose é uma enfermidade infecciosa transmitida pela bactéria do gênero Leptospira, frequentemente adquirida através do contato com água ou solo contaminados pela urina de animais infectados. Após eventos como inundações, observa-se um aumento no risco de transmissão dessa doença.

Recentemente, as principais sociedades médicas brasileiras envolvidas no combate à leptospirose, juntamente com a Secretaria da Saúde do Estado do Rio Grande do Sul, emitiram uma Nota Técnica Conjunta abordando as indicações para o uso de quimioprofilaxia, ou seja, a administração de antimicrobianos como medida preventiva contra essa enfermidade.

A Nota Técnica reforça a orientação do Ministério da Saúde, que desaconselha a utilização rotineira de antimicrobianos profiláticos contra a leptospirose. Essa recomendação está embasada em estudos científicos recentes, como uma revisão sistemática realizada pelo grupo Cochrane em 2024, que não encontrou diferenças significativas na mortalidade, infecção ou soroconversão com os esquemas de profilaxia utilizados, sugerindo que a prescrição indiscriminada de antimicrobianos não é uma medida de saúde pública adequada.

No entanto, a Nota Técnica reconhece que algumas revisões e publicações, inclusive um guia de tratamento da Organização Mundial da Saúde de 2003, apontam que a profilaxia com antimicrobianos pode ser considerada em situações de alto risco, justificando que, apesar das limitações dos estudos, há uma tendência de benefício no uso dessas medicações em determinados contextos.

A definição de "alto risco" é genérica na maioria dos artigos, mas alguns a consideram como "indivíduos com exposição contínua a transitar em águas contaminadas ou alagadiças, com ou sem lesões de pele, nadar em áreas alagadas ou ingerir água contaminada". No entanto, não há uma definição clara na literatura sobre o intervalo de tempo que seria considerado período prolongado.

Com base nessas informações, a Nota Técnica recomenda que sejam considerados de alto risco e elegíveis para a profilaxia com antimicrobianos:

  1. Equipes de socorristas de resgate e voluntários com exposição prolongada a água de enchente, nos quais os equipamentos de proteção individual não são capazes de prevenir a exposição.

  2. Pessoas expostas à água de enchente por período prolongado, com avaliação médica criteriosa do risco dessa exposição.

Para realizar a quimioprofilaxia, as recomendações são as seguintes:

Indicação principal: Doxiciclina

  • Adultos: 200 mg por via oral, em dose única para pessoas em pós-exposição de alto risco.

  • Adultos: 200 mg por via oral, 1x/semana enquanto ocorrer a exposição (resgate/socorristas).

  • Crianças: 4 mg/kg por via oral, em dose única para crianças em pós-exposição de alto risco, com dose máxima de 200 mg.

Alternativa: Azitromicina

  • Adultos: 500 mg por via oral, em dose única para pessoas em pós-exposição de alto risco.

  • Adultos: 500 mg por via oral, 1x/semana enquanto ocorrer a exposição (resgate/socorristas).

  • Crianças: 10 mg/kg por via oral, em dose única para crianças em pós-exposição de alto risco, com dose máxima de 500 mg.

É importante ressaltar que a profilaxia com antimicrobianos não é 100% eficaz, e mesmo em uso de quimioprofilaxia, a pessoa pode adquirir a doença. Além disso, a doxiciclina não deve ser administrada a gestantes e lactantes.

A Nota Técnica enfatiza que a pele íntegra não é um fator protetor em exposição prolongada à água de enchente, e que há um risco elevado de infecção quando as pessoas retornam às suas residências após eventos de inundação. Nessas situações, é recomendado o uso de equipamentos de proteção individual (EPI's) como botas, luvas e calças para proteção, onde normalmente há contato com água suja ou lama.

A disponibilização e uso de profilaxia com doxiciclina ou outros antimicrobianos em ocasião de desastres naturais também leva em consideração a disponibilidade e estoque da medicação profilática, bem como aspectos logísticos.

Em resumo, a Nota Técnica Conjunta das sociedades médicas brasileiras e da Secretaria da Saúde do Estado do Rio Grande do Sul fornece orientações claras sobre as indicações de quimioprofilaxia na leptospirose, com o objetivo de auxiliar na tomada de decisões clínicas e medidas de saúde pública em situações de alto risco, como enchentes e desastres naturais. A adoção dessas recomendações pode contribuir para a prevenção e controle dessa doença infecciosa potencialmente grave.

Referência: Sociedade Brasileira de Infectologia, Sociedade Gaúcha de Infectologia, & Secretaria da Saúde do Estado do Rio Grande do Sul. (2024). Nota Técnica Conjunta: Indicações de Quimioprofilaxia na Leptospirose. Retrieved from [chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://infectologia.org.br/wp-content/uploads/2024/05/NT_Quimioprofilaxia_Leptospirose_vRS_Serenita.pdf].

Lucas W. S. de Sousa, Biomédico Microbiologista editor e idealizador da página Microbiologia Clínica Brasil