Estudo da Fiocruz Bahia sobre tuberculose é destaque em revista internacional

Pesquisa inédita com dados nacionais do Brasil estimou a incidência e fatores de risco associados à tuberculose entre 420 mil contatos domiciliares de pacientes com a doença. O estudo acompanhou esses contatos por 15 anos e constatou que eles têm risco 16 vezes maior de desenvolver tuberculose do que a população em geral.

Lucas W.S.Sousa

1/24/20243 min read

Tuberculose: estudo com 420 mil contatos domiciliares no Brasil reforça necessidade de expandir políticas de prevenção

Pesquisa inédita com dados nacionais do Brasil estimou a incidência e fatores de risco associados à tuberculose entre 420 mil contatos domiciliares de pacientes com a doença. O estudo acompanhou esses contatos por 15 anos e constatou que eles têm risco 16 vezes maior de desenvolver tuberculose do que a população em geral.

Entre crianças menores de 5 anos contatos de casos, o risco foi 62 vezes maior. Os resultados reforçam a necessidade de expandir as políticas de rastreamento de contato e tratamento preventivo no país.

A tuberculose permanece um grave problema de saúde pública no Brasil, com incidência de 32 casos por 100 mil habitantes em 2022. Sabe-se que contatos domiciliares de pacientes com a doença são particularmente vulneráveis à infecção. Porém, faltam evidências robustas sobre esse grupo de risco no contexto dos países de renda média e baixa.

O estudo vinculou dados individuais socioeconômicos e demográficos da Coorte Brasileira de 100 Milhões com registros nacionais de tuberculose e mortalidade. Foram incluídos 420.854 contatos domiciliares de 137.131 pacientes índice com tuberculose entre 2004 e 2018.

Durante os 15 anos de seguimento, 8.953 contatos desenvolveram a doença, resultando em uma incidência 427 vezes maior que na população em geral (26,2 por 100 mil pessoas-anos). Entre crianças menor de 5 anos, a incidência foi 62 vezes maior.

O risco de tuberculose foi maior quando o paciente índice tinha menos de 5 anos ou tuberculose pulmonar. Contatos de raça ou etnia negra, parda ou indígena, e em piores condições habitacionais também apresentaram risco elevado.

Chama atenção o prolongado risco detectado principalmente entre adolescentes e adultos, sugerindo possíveis deficiências na busca de contatos e oferta de tratamento preventivo nessas faixas etárias.

Outro destaque é o risco aumentado entre contatos socialmente mais vulneráveis, o que reforça a necessidade de priorizá-los na investigação de contatos no Brasil.

A detecção precoce de tuberculose em crianças menores de 5 anos depois do diagnóstico do caso índice também indica que o rastreamento oportuno e tratamento preventivo podem contribuir para a prevenção nesse grupo.

Os achados apoiam a ampliação sistemática da investigação de contatos no país para expandir o tratamento preventivo, não só em crianças, mas também adolescentes e adultos jovens em situação de pobreza.

Essas medidas poderão promover a equidade na prevenção e atenção à tuberculose no Brasil e ajudar no alcance das metas de eliminação, com benefícios para a saúde individual dos contatos e coletiva da população.

A tuberculose continua sendo um grave problema de saúde pública no Brasil. Embora as taxas de incidência tenham diminuído nas últimas décadas, o país ainda registra cerca de 32 casos novos por 100 mil habitantes ao ano.

Nesse cenário, pesquisadores brasileiros publicaram recentemente na renomada revista científica The Lancet Infectious Diseases um amplo estudo que analisou a incidência e os fatores de risco associados à tuberculose entre contatos domiciliares de pacientes com a doença no país.

Desenvolvido por cientistas do Centro de Integração de Dados em Saúde (Cidacs) da Fiocruz Bahia, o estudo acompanhou 420 mil contatos domiciliares por 15 anos. Os resultados mostraram que esses contatos têm risco 16 vezes maior de desenvolver tuberculose que a população em geral, chegando a 62 vezes maior no caso de crianças menores de 5 anos.

A publicação no periódico Lancet Infectious Diseases reflete o reconhecimento da relevância e qualidade da pesquisa brasileira, que teve grande alcance entre especialistas e autoridades sanitárias mundiais que atuam no controle de doenças infecciosas como a tuberculose.

Segundo a coordenadora do estudo, Julia Pescarini, os achados reforçam a necessidade de expandir as políticas de rastreamento de contatos e tratamento preventivo no Brasil. O estudo fornece evidências para subsidiar estratégias mais efetivas de controle da tuberculose entre populações socialmente vulneráveis no país e em contextos semelhantes ao brasileiro.

Referência do artigo original publicado: Pinto PFPS, Teixeira CSS, Ichihara MY, et al. Incidence and risk factors of tuberculosis among 420 854 household contacts of patients with tuberculosis in the 100 Million Brazilian Cohort (2004-18): a cohort study. Lancet Infect Dis. 2024;24(1):46-56.


Lucas W. S. de Sousa, Biomédico Microbiologista editor e idealizador da página Microbiologia Clínica Brasil.