Fiocruz Rondônia intensifica ações para rastrear arboviroses no Estado

Saiba mais sobre as ações da Fiocruz Rondônia para rastrear arboviroses na Amazônia, incluindo dengue, zika, chikungunya, febre amarela, mayaro e oropouche. Descubra como o monitoramento laboratorial contribui para identificar padrões epidemiológicos e aperfeiçoar estratégias de prevenção e assistência em meio aos desafios da alta endemicidade e subnotificação de casos em Rondônia.

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Lucas W.S.Sousa

2/9/20244 min read

Fiocruz Rondônia: Ações de Rastreamento de Arboviroses na Amazônia

As arboviroses representam um desafio constante para a saúde pública em Rondônia. Além da alta endemicidade, o estado sofre com a subnotificação de casos e as limitações para o diagnóstico preciso desses patógenos.

Dengue, zika, chikungunya e febre amarela são as infecções mais conhecidas e com maior número de casos confirmados anualmente. Mas o alerta permanece para os demais arbovírus circulantes, como mayaro e oropouche. Em 2022, Rondônia registrou mais de 25 mil infecções por dengue e 10 mortes pela doença.

Foram confirmados ainda seis casos de febre amarela, com um óbito. Já zika e chikungunya tiveram notificações mais baixas, de 140 e 73 casos, respectivamente. Contudo, especialistas estimam que os números reais sejam muito maiores, devido à subnotificação. Muitos casos de arboviroses acabam sendo registrados de forma inespecífica como síndromes febris agudas.

Além disso, a vigilância e as medidas de controle enfrentam dificuldades adicionais em Rondônia pela extensão territorial, populações dispersas e obstáculos de acesso na área rural.

A Fundação Oswaldo Cruz em Rondônia (Fiocruz Rondônia) vem intensificando as ações de rastreio de doenças febris agudas causadas por arbovírus no estado. Essa iniciativa ocorre diante de uma preocupação crescente com a alta endemicidade da região para mais de 150 tipos desses vírus, catalogados na biodiversidade amazônica.

Entre os arbovírus presentes em Rondônia, destacam-se aqueles que causam a dengue, a zika, a chikungunya e a febre amarela, mais conhecidos da população. Além desses, circulam também na região os vírus mayaro e oropouche, que são menos familiares, mas igualmente preocupantes.

Diante do cenário de números elevados de doenças febris agudas em Rondônia, a Fiocruz vem fazendo o acompanhamento de casos suspeitos. O objetivo é caracterizar o perfil clínico e epidemiológico dessas ocorrências e identificar as principais arboviroses que estão circulando no estado atualmente.

Os estudos são coordenados pelo Laboratório de Virologia Molecular da instituição, em colaboração com a Secretaria Municipal de Saúde de Porto Velho (Semusa), a Coordenação de Vigilância em Saúde e Laboratórios de Referência da própria Fiocruz e o Centro de Pesquisa em Medicina Tropical de Rondônia (Cepem), vinculado à Secretaria de Estado da Saúde.

Somente entre 10 de janeiro e 6 de fevereiro deste ano, 452 amostras de pacientes da rede pública de Porto Velho foram analisadas. Todos apresentavam quadros suspeitos de doenças febris agudas e foram atendidos no Cepem e em duas grandes policlínicas da capital.

Do total de amostras processadas no período citado, 221 tiveram resultado positivo. Foram confirmados 22 casos de dengue pelo sorotipo DENV-1 e 199 de infecção pelo vírus oropouche.

De acordo com a coordenadora do estudo, Deusilene Vieira, esse trabalho é relevante para compreender o perfil epidemiológico e molecular das arboviroses. Isso permite o acompanhamento adequado dos casos, especialmente diante de um número expressivo de confirmações para o vírus oropouche.

A infecção por esse patógeno se confunde facilmente com a dengue, pois ambas apresentam sintomas muito parecidos. Por isso, a diferenciação precisa entre elas é um desafio constante para os profissionais de saúde que atuam na linha de frente.

Ainda segundo a pesquisadora, a inclusão do diagnóstico para oropouche e mayaro amplia a capacidade de rastreio das arboviroses como um todo. Isso facilita não só o acesso da população à saúde pública, mas também a avaliação e o planejamento de ações de controle e vigilância pelos gestores locais.

O estudo da Fiocruz Rondônia vem sendo financiado por meio de editais como o Inova Amazônia e o Amazônia+10. Conta ainda com o apoio do Instituto Nacional de Epidemiologia da Amazônia Ocidental (INCT-EpiAmO).

Monitoramento ampliado em Humaitá

Para reforçar o diagnóstico de doenças febris agudas por arbovírus na região amazônica, a Fiocruz Rondônia ampliou as parcerias com a Secretaria Municipal de Saúde de Humaitá, município do sul do Amazonas.

As novas colaborações representam o compromisso mútuo entre as instituições pelo fortalecimento das ações de vigilância e atenção à saúde da população local. O foco são sobretudo as comunidades mais distantes, buscando oferecer respostas e diagnósticos mais precisos aos casos suspeitos.

A secretária municipal de Saúde de Humaitá, Sara dos Santos Riça, destacou a importância da presença da equipe da Fiocruz no município. Ela reforçou a necessidade de um trabalho amplo de rastreio das arboviroses para obter informações precisas sobre a prevalência dos casos e atuar de forma abrangente no enfrentamento.

Em Humaitá, a Fiocruz Rondônia já realizou uma capacitação com profissionais da saúde, com foco nos vírus mayaro e oropouche. Foram apresentadas as características clínicas dessas infecções e como diferenciá-las de outras arboviroses endêmicas na região.

Além disso, a equipe fez busca ativa em comunidades rurais dos distritos de Cristolândia e Realidade. Foram coletadas amostras biológicas de pacientes com suspeita de arboviroses para análise.

O monitoramento laboratorial da Fiocruz auxilia não apenas no mapeamento, mas também na compreensão da dinâmica de transmissão e dos padrões clínico-epidemiológicos. Isso permite o aperfeiçoamento das estratégias de prevenção e assistência.

Iniciativa visa mapear e compreender a dinâmica das doenças febris agudas causadas por arbovírus em meio à alta endemicidade na região amazônica.


Lucas W. S. de Sousa, Biomédico Microbiologista editor e idealizador da página Microbiologia Clínica Brasil.