Monitoramento de aves aquáticas em busca da gripe aviária no Brasil

Uma equipe de pesquisadores do Instituto Butantan, em conjunto com a Rede Nacional de Vigilância de Vírus em Animais Silvestres (PREVIR), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), está monitorando aves silvestres aquáticas em diferentes pontos de represa e do litoral do estado de São Paulo, em uma busca ativa por amostras do vírus da gripe aviária H5N1 no estado.

NOTÍCIAS

Lucas W.S.Sousa

1/27/20243 min read

Butantan faz monitoramento de aves aquáticas em busca de rota da gripe aviária no Brasil

A gripe aviária, causada por vírus influenza aviários, é uma doença que afeta principalmente aves domésticas e selvagens. Nos últimos anos, cepas altamente patogênicas como o vírus H5N1 têm causado surtos em aves e alguns casos em humanos ao redor do mundo. Com a chegada da gripe aviária na América do Sul em 2022, o Brasil entrou em alerta e vem monitorando a circulação viral em aves migratórias aquáticas, conhecidas hospedeiras naturais do H5N1.

O vírus influenza aviário H5N1 é considerado altamente patogênico, podendo causar doença sistêmica em aves domésticas e silvestres. As aves aquáticas migratórias, como patos, gansos, cisnes, gaivotas e maçaricos, são os principais reservatórios do vírus na natureza. Apesar de altamente letal em aves, infecções em humanos são raras e ocorrem por contato próximo com aves infectadas. Até o momento, a transmissão de pessoa para pessoa se mostrou muito limitada.

No Brasil, o monitoramento de influenza aviária em aves silvestres é realizado pela Rede Nacional de Vigilância de Vírus em Animais Silvestres (PREVIR), do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), em parceria com instituições de pesquisa como o Instituto Butantan. O objetivo é detectar precocemente a circulação viral no país e monitorar mutações que possam facilitar a transmissão para mamíferos.

As expedições de coleta começaram em setembro de 2022, pouco antes da migração de aves do hemisfério norte para a América do Sul. As equipes percorrem regiões litorâneas e represas do estado de São Paulo, locais de parada e descanso das aves migratórias. As espécies-alvo são aquáticas, especialmente patos, gansos, marrecos e maçaricos.

O procedimento padrão é a coleta de swabs de secreções respiratórias das aves para posterior envio ao laboratório. As análises moleculares buscam detectar o RNA viral de influenza aviária H5N1. Até o momento, todos os resultados foram negativos para a cepa altamente patogênica. Porém, o monitoramento segue importante, pois a situação epidemiológica pode mudar rapidamente.

O Brasil declarou emergência sanitária animal diante da chegada do H5N1 na América do Sul. Embora o status sanitário tenha voltado ao normal, o país segue em alerta. Foram registrados 148 focos em aves silvestres, a maioria na região Sul do país. Felizmente, granjas comerciais ainda não foram afetadas.

A vigilância em aves migratórias é crucial para entender as rotas de entrada e circulação viral no Brasil. As aves que se deslocam entre América do Norte e do Sul podem carregar consigo diferentes linhagens do H5N1. Ao infectar aves locais, novas variantes podem surgir por processo de evolução viral.

O monitoramento genômico do H5N1 visa detectar mutações que facilitem a adaptação e transmissão em mamíferos. Se isso ocorrer, o risco à saúde humana e animal aumenta dramaticamente. Por essa razão, a situação epidemiológica é constantemente avaliada por autoridades sanitárias nacionais e internacionais.

Embora o risco de uma pandemia de influenza aviária seja considerado baixo no momento, a imprevisibilidade dos vírus RNA exige cautela. Os coronavírus ressaltaram a capacidade desse grupo viral de se disseminar rapidamente pelo mundo. Portanto, é essencial vigiar as variantes de H5N1 circulantes e sua interação com espécies suscetíveis.

O Brasil possui expertise em virologia e redes de pesquisa consolidadas. O país já enfrentou desafios como Zika e COVID-19, obtendo respostas rápidas da comunidade científica. Esse conhecimento permitiu implementar um sistema robusto de vigilância viral na fauna e em humanos.

A interface animal-humano-ambiente é fulcral para mitigar spillovers virais e disseminação de patógenos. Os programas de monitoramento viral do MCTI e Instituto Butantan exemplificam a importância da abordagem multidisciplinar One Health para segurança sanitária.

As medidas adotadas pelo setor avícola e autoridades também merecem destaque. O Brasil está atento e preparado para lidar com a gripe aviária, protegendo a população humana e os plantéis avícolas comerciais. A experiência obtida será valiosa para aprimorar protocolos e enfrentar futuras ameaças virais.

Lucas W. S. de Sousa, Biomédico Microbiologista editor e idealizador da página Microbiologia Clínica Brasil.