Primeiro Caso de Febre Oropouche no Rio de Janeiro é Diagnosticado pelo Instituto Oswaldo Cruz

O Instituto Oswaldo Cruz diagnosticou o primeiro caso de febre Oropouche no Rio de Janeiro, uma doença transmitida por mosquitos e comum na Amazônia. O paciente havia viajado para Manaus e apresentou sintomas semelhantes à dengue.

Lucas W.S.Sousa

3/3/20244 min read

Instituto Oswaldo Cruz confirma infecção em paciente com histórico de viagem à Manaus

O Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) detectou recentemente o primeiro caso de febre Oropouche diagnosticado no estado do Rio de Janeiro. A confirmação laboratorial ocorreu após uma pessoa que havia viajado para Manaus apresentar sintomas semelhantes aos da dengue.

O Laboratório de Arbovírus e Vírus Hemorrágicos do IOC, que atua como Laboratório de Referência Regional para Arbovírus junto ao Ministério da Saúde, foi responsável por realizar os exames que levaram ao diagnóstico. As autoridades de Saúde foram devidamente notificadas sobre o achado, seguindo os trâmites oficiais estabelecidos.

O paciente, inicialmente, procurou atendimento médico no Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), onde foram coletadas amostras de soro sanguíneo e encaminhadas para análise no Laboratório de Referência. Embora os sintomas fossem parecidos com os de um caso de dengue, os testes para essa doença, bem como para chikungunya e Zika, apresentaram resultados negativos.

Diante desse cenário, os pesquisadores decidiram realizar investigações complementares para a febre Oropouche, seguindo um protocolo recém-implantado no Laboratório. O diagnóstico foi confirmado por meio de um exame sorológico, que detectou a presença de anticorpos específicos contra o vírus causador da doença no sangue do paciente.

De acordo com Ana Maria Bispo de Filippis, virologista e chefe substituta do Laboratório de Arbovírus e Vírus Hemorrágicos do IOC, existem duas principais formas de identificar a infecção por Oropouche através de exames laboratoriais. "Durante a fase aguda, que dura de dois a sete dias após o início dos sintomas, é possível detectar o material genético do vírus em amostras de soro por meio da técnica de RT-PCR. A partir do quinto dia, os pacientes começam a produzir anticorpos contra o vírus, que podem ser identificados por testes sorológicos", explicou.

No caso específico do paciente diagnosticado no Rio de Janeiro, a amostra analisada não correspondia mais à fase aguda da doença, motivo pelo qual o genoma viral não foi detectado pelo teste de RT-PCR. "No entanto, a sorologia confirmou a infecção recente pelo vírus Oropouche", ressaltou Ana Bispo.

O fato de o paciente ter histórico de viagem para Manaus, capital do Amazonas, onde tem sido registrado um aumento expressivo nos casos de febre Oropouche, foi um fator determinante para a investigação dessa enfermidade. Recentemente, a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas emitiu um alerta epidemiológico devido à alta incidência da doença no estado.

Diante desse cenário preocupante, o Laboratório de Referência Regional para Arbovírus adotou um protocolo de investigação específico para a febre Oropouche. Todas as amostras recebidas referentes a casos suspeitos de arboviroses são inicialmente testadas para dengue, chikungunya e Zika. Nos casos em que os resultados são negativos para essas três doenças mais comuns, as amostras passam por testes adicionais para detecção do vírus Oropouche.

"Implantamos esse protocolo há cerca de três meses, em decorrência do que vem ocorrendo na Região Norte. Todas as amostras recebidas pelo Laboratório como casos suspeitos de dengue ou com indicação de síndrome 'dengue-like' [ou seja, com sinais e sintomas típicos da dengue] e que têm resultado negativo nos testes para dengue, chikungunya e Zika, são submetidas a testes adicionais para detectar outros vírus em circulação", detalhou Ana Bispo.

Como Laboratório de Referência Regional para o Ministério da Saúde, o Laboratório de Arbovírus e Vírus Hemorrágicos do IOC recebe amostras de seis estados brasileiros: Bahia, Ceará, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte. Além de dengue, chikungunya, Zika e febre Oropouche, o serviço de referência contempla diversas outras arboviroses de relevância clínico-epidemiológica, como febre amarela, Mayaro, febre do Nilo Ocidental e encefalite Saint Louis, entre outras.

O laboratório do IOC integra a Rede de Laboratórios de Arbovírus da Região das Américas (Relda) da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e a Rede Global de Laboratórios de Febre Amarela da Organização Mundial da Saúde (OMS), desempenhando um papel fundamental no monitoramento e controle dessas doenças.

A febre Oropouche é causada pelo vírus Orthobunyavirus oropoucheense (OROV), que foi isolado pela primeira vez no Brasil em 1960. Desde então, sua ocorrência tem sido detectada principalmente nos estados da região amazônica. O OROV é um vírus transmitido por mosquitos e pode circular tanto em ambientes silvestres quanto urbanos.

No ciclo silvestre, animais como bichos-preguiça e macacos são acometidos pela infecção. Já no ciclo urbano, os seres humanos são as principais vítimas do vírus. O mosquito Culicoides paraensis, popularmente conhecido como maruim ou mosquito-pólvora, é apontado como o principal transmissor da febre Oropouche, tanto nas áreas silvestres quanto nas áreas urbanas. Nas regiões urbanas, o mosquito Culex quinquefasciatus, comumente chamado de pernilongo ou muriçoca, também pode ocasionalmente transmitir o vírus.

A febre Oropouche é uma arbovirose de importância crescente no Brasil, especialmente na região amazônica, e o caso diagnosticado no Rio de Janeiro reforça a necessidade de vigilância e preparação dos serviços de saúde para lidar com essa doença emergente. O Laboratório de Referência Regional para Arbovírus do IOC desempenha um papel fundamental na detecção e monitoramento de casos, contribuindo para o controle e prevenção da disseminação do vírus Oropouche em todo o país.

Fonte: Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). "Primeiro Caso de Febre Oropouche é Diagnosticado no Rio de Janeiro." 1 de março de 2024, no Rio de Janeiro: https://www.ioc.fiocruz.br/noticias/instituto-confirma-primeiro-diagnostico-de-febre-oropouche-no-rio-de-janeiro

Lucas W. S. de Sousa, Biomédico Microbiologista editor e idealizador da página Microbiologia Clínica Brasil.