Resistência antimicrobiana e mudanças climáticas em pauta no 154º Conselho Executivo da OMS
A 154º sessão do Conselho Executivo da OMS debateu temas cruciais como resistência antimicrobiana e mudanças climáticas. O diretor da OPAS defendeu acelerar ações contra a resistência bacteriana a antibióticos na região e destacou que populações vulneráveis nas Américas são as mais afetadas pelos efeitos do clima na saúde.
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Lucas W.S.Sousa
2/5/20243 min read


Reunião em Genebra discute questões-chave para as Américas como combate à resistência a antibióticos e impactos do clima na saúde
Realizada em Genebra, na Suíça, entre os dias 22 e 27 de janeiro, a 154º sessão do Conselho Executivo da Organização Mundial da Saúde (OMS) debateu temas cruciais para a saúde global, com destaque para a resistência antimicrobiana (RAM) e as mudanças climáticas, duas questões prioritárias também para a região das Américas.
Durante o evento, o diretor da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), Jarbas Barbosa, enfatizou a urgência de acelerar as ações para conter o avanço da resistência antimicrobiana, uma ameaça crescente que exige esforços conjuntos dos países.
A RAM ocorre quando bactérias, vírus, fungos e parasitas desenvolvem capacidade de resistir aos medicamentos antimicrobianos, tornando infecções comuns e doenças transmitidas por alimentos muito difíceis de tratar. Isso resulta em hospitalizações mais longas, custos médicos mais altos e maior risco de morte.
De acordo com Barbosa, embora 83% dos países das Américas já contem com planos de ação nacional para combater o problema, menos da metade vem sendo implementado de modo efetivo. “Os países devem trabalhar colaborativamente, em nível regional e global, para lidar com essa questão”, afirmou.
Outro tema amplamente discutido foi o impacto das mudanças climáticas na saúde, sobretudo nos países mais vulneráveis. Nas Américas, populações em situação de pobreza, os jovens e futuras gerações, além de territórios frágeis como ilhas e a Amazônia, são os mais afetados, apesar de menos responsáveis pelo aquecimento global.
O diretor da OPAS ressaltou que, apesar de algum progresso na adaptação do setor saúde aos efeitos do clima, como projetos para tornar sistemas de saúde mais resilientes, o avanço na região tem sido desigual. Portanto, a equidade deve estar no centro dos esforços de mitigação e adaptação às mudanças do clima.
A OMS destaca que entre 2030 e 2050, o aquecimento global deverá causar aproximadamente 250 mil mortes adicionais por ano, devido à má nutrição, malária, diarreia e estresse por calor. Além disso, as alterações climáticas favorecem a transmissão de doenças infecciosas como dengue, zika, chikungunya e febre amarela.
Na América Latina e Caribe, fenômenos climáticos extremos como furacões, secas e incêndios florestais têm se intensificado. Em 2021, desastres naturais na região ocasionaram quase 100 milhões de afetados e mais de 4 mil mortes, segundo a OPAS.
O Conselho Executivo reúne 34 especialistas eleitos para orientar e supervisionar as atividades da OMS. Seis países das Américas fazem parte atualmente: Barbados, Brasil, Canadá, Estados Unidos, Paraguai e Peru. Em reuniões à parte, representantes da região discutiram questões como emergências de saúde, doenças não transmissíveis e distribuição igualitária de recursos entre regiões.
Barbosa também se reuniu com autoridades de países latino-americanos para tratar de prioridades como dengue, saúde mental e o fortalecimento dos sistemas de saúde. Ele defendeu a importância de abordar problemas de saúde de forma integrada e multissetorial.
Outros assuntos discutidos no Conselho foram metas de vacinação, segurança do paciente, resistência a inseticidas, poluição do ar, saúde ocular, entre outros temas relevantes para a saúde pública internacional.
A OMS tem alertado que a RAM é uma das maiores ameaças à saúde global no século XXI. Estima-se que cause atualmente quase 1,3 milhão de mortes por ano no mundo. No entanto, apenas um novo classe de antibióticos foi descoberta nas últimas três décadas.
O combate à RAM exige melhor uso de antimicrobianos, prevenção e controle de infecções, mais pesquisa e desenvolvimento de novos medicamentos, além de monitoramento e governança internacional, defende a organização.
Já as mudanças climáticas também representam uma crise sanitária. A OMS recomenda incluir a saúde no centro das discussões climáticas, além de ampliar sistemas de alerta precoce, utilizar energia limpa nos serviços de saúde e treinar profissionais para lidar com impactos na saúde.
O Conselho Executivo é uma instância fundamental para orientar e monitorar a implementação de políticas de saúde globais. Ao debater temas cruciais como resistência antimicrobiana e mudanças climáticas, o órgão dá passos concretos para enfrentar problemas que exigem respostas urgentes e integradas mundialmente para proteger vidas humanas.


Lucas W. S. de Sousa, Biomédico Microbiologista editor e idealizador da página Microbiologia Clínica Brasil.