Shewanella algae: Um Patógeno Emergente Causador de Infecções Cutâneas

A Shewanella algae é uma bactéria gram-negativa encontrada em ambientes aquáticos que vem ganhando destaque como agente infeccioso emergente, especialmente em regiões de clima tropical e temperado. Embora raramente relatada, essa bactéria ambiental pode causar manifestações clínicas diversas, desde infecções de pele e partes moles até quadros mais graves de bacteremia e sepse.

Lucas W.S.Sousa

1/15/20243 min read

Celulite por superbactéria aquática: um caso de infecção cutânea por Shewanella algae alerta para patógeno emergente

A Shewanella algae é uma bactéria gram-negativa encontrada em ambientes aquáticos que vem ganhando destaque como agente infeccioso emergente, especialmente em regiões de clima tropical e temperado. Embora raramente relatada, essa bactéria ambiental pode causar manifestações clínicas diversas, desde infecções de pele e partes moles até quadros mais graves de bacteremia e sepse.

Recentemente, pesquisadores portugueses descreveram um caso de celulite aguda com bacteremia por S. algae em uma paciente previamente hígida de 46 anos. A paciente deu entrada no hospital com sinais inflamatórios intensos na perna esquerda, incluindo edema, calor, eritema e febre de 39,5°C. Exames iniciais evidenciaram leucocitose, neutrofilia e níveis elevados de proteína C reativa.

Shewanella algae: Microscopia revelando Bacilos Gram-negativos.

Hemoculturas isolaram S. algae, confirmando bacteremia por esse patógeno emergente. Testes de susceptibilidade antimicrobiana mostraram sensibilidade a vários antibióticos, incluindo gentamicina, ciprofloxacina, piperacilina/tazobactam e meropenem.

Apesar do uso inicial de levofloxacina, houve piora do quadro inflamatório em 48 horas, requerendo mudança para meropenem. Foi necessária cobertura adicional para Staphylococcus aureus devido à lenta resolução do caso. Após 14 dias de meropenem e 7 dias de linezolida, a paciente teve alta com recuperação completa.

Esse foi o primeiro relato de celulite e bacteremia por S. algae em Portugal e região dos Açores. A paciente não apresentava fatores de risco clássicos para infecção por Shewanella, como exposição a ambientes aquáticos, doença hepática ou renal crônica.

Portanto, o caso ressalta S. algae como patógeno emergente capaz de causar infecções mesmo em hospedeiros imunocompetentes. Reforça também a importância de considerar essa bactéria ambiental no diagnóstico diferencial de celulites e infecções de pele, independente da presença de fatores de risco.

Colônias de Shewanella algae em Agar Chocolate e Agar Sangue.

Tratamento e medidas de prevenções

Atualmente, não existem diretrizes específicas para o tratamento de infecções por Shewanella. Sabe-se que essa bactéria apresenta resistência a vários antibióticos de primeira linha para infecções de pele e tecidos moles, como penicilinas e cefalosporinas. Além disso, casos de resistência a quinolonas e carbapenêmicos já foram reportados.

A duração prolongada de antibioticoterapia no caso descrito sugere que infecções por S. algae podem requerer tratamento mais longo que o habitual para celulites bacterianas. São necessários mais estudos sobre terapia antimicrobiana ideal e padrões de resistência de Shewanella spp.

A vigília ativa e divulgação de novos casos é essencial para entender a epidemiologia e aprimorar o manejo clínico das infecções por esse microrganismo emergente. Além de investigar fatores de risco individuais, também é importante mapear a presença de S. algae no meio ambiente e vetores de transmissão.

Profissionais de saúde devem manter um alto índice de suspeição para Shewanella spp. em casos de celulite e infecções de pele, mesmo na ausência de contexto epidemiológico sugestivo. O reconhecimento precoce e tratamento apropriado são cruciais para melhorar desfechos e conter a disseminação desse patógeno ambiental oportunista.

Lucas W. S. de Sousa, Biomédico Microbiologista editor e idealizador da página Microbiologia Clínica Brasil.