Tuberculose: Da Antiguidade ao Século XXI – A Luta Contra um dos Maiores Desafios da Saúde Pública Mundial

Entenda a história da tuberculose, desde sua origem até os avanços mais recentes no diagnóstico e tratamento. Conheça os desafios da TB multirresistente e a Estratégia End TB da OMS para eliminar a doença.

Lucas W.S.Sousa

3/20/20254 min read

Conheça a origem, evolução histórica, formas de transmissão, diagnóstico, tratamento e os desafios atuais no combate à tuberculose no mundo

A tuberculose é uma das doenças mais antigas conhecidas pela humanidade, mas continua sendo um dos maiores desafios da saúde pública global. Estima-se que mais de 10 milhões de pessoas sejam infectadas todos os anos, resultando em mais de um milhão de mortes. Mesmo com o avanço da medicina moderna, a TB segue desafiando cientistas, governos e sistemas de saúde pelo mundo.

A Origem Histórica da Tuberculose

Pesquisas sugerem que o agente causador da TB, o Mycobacterium tuberculosis (MTB), pode ter surgido há centenas de milhões de anos. Os primeiros registros escritos da doença remontam à Índia, cerca de 3.300 anos atrás. Na Grécia antiga, a doença era chamada de "tísica" e descrita por médicos como uma condição debilitante, caracterizada por febre, suores, tosse e escarro sanguinolento.

Ao longo dos séculos, a TB recebeu vários nomes, como:

  • Mal do Rei (escrófula, tuberculose linfática);

  • Ladrão da Juventude, devido à alta mortalidade entre jovens europeus no século XVIII;

  • Peste Branca, associada à palidez dos pacientes;

  • Capitão de Todos Esses Homens da Morte, durante epidemias nos séculos XVIII e XIX.

A Descoberta Científica: Robert Koch e o MTB

O marco da luta contra a tuberculose ocorreu em 24 de março de 1882, quando Robert Koch anunciou a descoberta do bacilo causador da TB. A partir dos Postulados de Koch, ele isolou, cultivou e reproduziu o Mycobacterium tuberculosis, revolucionando o entendimento sobre doenças infecciosas. Essa descoberta foi fundamental para o desenvolvimento de diagnósticos e tratamentos eficazes.

Transmissão e Forma de Contágio

A TB é transmitida principalmente por via aérea, através de gotículas expelidas por tosse, fala ou espirro de pessoas com TB ativa. Basta um pequeno número de bacilos para iniciar a infecção. Estima-se que cerca de 25% da população mundial esteja infectada com o bacilo, embora a maioria não desenvolva a forma ativa da doença.

O risco de evoluir para a forma ativa é maior em pacientes imunossuprimidos, como pessoas com HIV, diabetes ou desnutrição.

Diagnóstico: Como Identificar a TB

Para detectar a TB latente, utilizam-se dois testes principais:

  • Teste cutâneo de tuberculina (PPD);

  • IGRA (ensaio de liberação de interferon-gama).

Para TB ativa, realizam-se exames de escarro, raio-X de tórax, cultura bacteriana e testes moleculares rápidos, com maior sensibilidade e especificidade. O uso desses testes é essencial para um diagnóstico precoce e interrupção da cadeia de transmissão.

Tratamento da TB: Primeira Linha e TB-MDR

O tratamento de TB ativa é baseado em quatro medicamentos de primeira linha: isoniazida, rifampicina, pirazinamida e etambutol. O esquema terapêutico dura, em média, seis meses.

O grande desafio atual é o aumento da TB multirresistente (TB-MDR), que não responde à isoniazida e rifampicina. Nesse caso, são necessários medicamentos de segunda linha por 9 a 20 meses, com monitoramento rigoroso. Casos de TB-XDR (extensivamente resistente) são ainda mais complexos e exigem alternativas terapêuticas limitadas.

A Terapia Diretamente Observada (DOT) tem sido usada para garantir adesão ao tratamento e aumentar as taxas de cura.

Impacto Global da TB

A TB continua a ser uma das principais causas de morte por agente infeccioso no mundo. A OMS estima que quase 50% das famílias afetadas enfrentam gastos que superam 20% de sua renda. Em países de baixa renda, a carga é ainda maior devido à precariedade no acesso à saúde.

A Estratégia End TB da OMS

Liderada pela Organização Mundial da Saúde, a iniciativa "End TB Strategy" foi lançada em 2014 para eliminar a TB como problema de saúde pública até 2030. A estratégia se baseia em três pilares:

  1. Cuidados centrados no paciente: Diagnóstico precoce, triagem de populações vulneráveis e tratamento integrado com outras comorbidades.

  2. Políticas robustas e apoio social: Inclusão comunitária, alívio da pobreza e cobertura universal de saúde.

  3. Pesquisa e inovação: Desenvolvimento de novas vacinas, terapias e ferramentas diagnósticas mais eficazes.

Desafios Atuais e Caminhos Futuros

Apesar dos avanços, ainda enfrentamos lacunas críticas:

  • Falta de financiamento adequado;

  • Milhões de casos não diagnosticados ou tratados;

  • Ameaça crescente da TB resistente;

  • Desigualdades sociais e econômicas que perpetuam a transmissão.

Combater a TB requer uma abordagem integrada, investimento em ciência, fortalecimento de sistemas de saúde e redução da desigualdade social.

Conclusão

A história da tuberculose é também a história da luta da humanidade contra uma doença persistente. Ainda que antiga, a TB continua atual. A meta de um mundo sem tuberculose é ambiciosa, mas possível com o comprometimento político, científico e social.

O conhecimento, a prevenção e o tratamento são as principais ferramentas para salvar vidas e transformar o futuro da saúde pública global.

Referência: Fonte original: ASM Journals. A História da Tuberculose. Disponível em: https://asm.org/Articles/2024/March/The-History-of-Tuberculosis. Acesso em: 27 mar. 2024.


Lucas W.S de Sousa, Biomédico Microbiologista editor e idealizador da página Microbiologia Clínica Brasil.